O 6° Fórum Mundial da Água, realizado nesses dias em Marselha (França), não deixou margem para dúvidas: ou se investe decididamente na proteção dos recursos hídricos do planeta, ou a civilização humana padecerá de terrível escassez. Que já se manifesta.
Relatório da ONU, apresentado no encontro, aponta a irrigação agrícola como séria questão a ser enfrentada. Primeiro, porque tal técnica demanda muita água, cerca de 70% do total; segundo, devido à dramática necessidade para alimentar uma população que deverá atingir 9 bilhões de habitantes em 2050. Segundo as revisadas, e mais precisas, estimativas da FAO, a produção de comida precisa crescer 60% nesse período, e isso somente parece possível aumentando as áreas irrigadas no campo.
Cerca de 25% das áreas agrícolas mundiais se degradam, em decorrência da má, e intensiva, agricultura. Esta depaupera os recursos hídricos, reduz a fertilidade dos solos, aumenta a erosão. Na Espanha, na Austrália, nos Estados Unidos, na África, por onde se procura se percebem ameaças contra a segurança alimentar.
Olhos enviesados atribuem à agricultura o papel de vilão na equação mundial da água. Algo injusto. Acontece que mesmo gastadora, a prática da irrigação rural pouco compromete a qualidade da água, exceto quando esta se contamina com resíduos de agrotóxicos persistentes. Após regar as plantas, via aspersão ou no gotejamento, o precioso líquido se percola pelas entranhas da terra, corre aos riachos ou se evapora, cumprindo o ciclo natural da água.
No uso urbano, ao contrário, o abastecimento das residências polui organicamente as águas nos vasos sanitários; na pia da cozinha e na lavanderia ela se mistura ainda com detergentes e saponáceos. Já nas unidades industriais, as águas utilizadas se contaminam com solventes e demais produtos químicos, que lhe roubam a vida. Nas cidades, que ninguém duvide, ambas a demanda e a poluição são tremendas.
O Fórum Mundial da Água de 2012 contou, entre as 180 delegações participantes, com a presença de uma orgulhosa comitiva paulista. Ela representava o exitoso “Pacto das Águas São Paulo”, um programa que nasceu há três anos às margens do rio Jacaré Pepira, no município de Bocaina. Ali, tendo à frente o então governador José Serra, centenas de prefeitos e outras autoridades municipais se comprometeram a aderir ao “Consenso das Águas” de Istambul (Turquia), documento histórico que define tarefas na gestão descentralizada dos recursos hídricos.
O “Pacto das Águas São Paulo” configura o maior programa já realizado no Brasil em defesa dos recursos hídricos, com foco na gestão local, dentro das bacias hidrográficas. Lição de casa bem feita.
Por todo o estado de São Paulo, corredores ecológicos se formam sinuosamente acompanhando os córregos. A recuperação dessa mata, chamada ciliar como se os olhos abrigassem, garante a plena função ambiental da biodiversidade, promovendo a junção do verde (vegetação) com o azul (água).
Neste próximo dia 22 de março se comemora o Dia Mundial da Água.
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